
Uma parada na estação 31 x 1.
Aconteceu em 12 de Agosto de 1979, em Jundiaí - SP, uma das maiores goleadas da história do Futebol Amador em partidas oficiais. Talvez um recorde. Não sei. Mas aconteceu de verdade e eu tive a felicidade de participar desta partida, e pelo time que fez 31. Foi assim...
Aconteceu com o nosso querido - ESTRELA DA PONTE SÃO JOÃO - o"Estrelinha" como era carinhosamente chamado. O jogo marcado para uma manhã de Domingo, no campo do Centro Esportivo Pedro Raimundo da Vila Rio Branco. A história, na verdade, começa uma semana antes.
Após os resultados do domingo anterior, 05 de Agosto de 1979, o título do primeiro turno seria decidido apenas na última rodada entre duas equipes, o Estrelinha e o poderoso C.A. Comercial(clube da elite de Jundiaí), empatadas na pontuação geral. Assim a decisão seria definida contando com a vitória das duas equipes, no SALDO DE GOLS. A Liga Jundiaiense de Futebol na reunião da 2a feira decidiu que os jogos seriam no mesmo horário.
C. A. Comercial x Duratex, no campo do Primavera.
S. E. Estrela da Ponte x Automóvel Clube no Pedro Raimundo.
Pois bem na terça feira começaram a surgir rumores que o Estrelinha não teria nenhuma chance, pois os Diretores do Comercial eram muito amigos dos do Automóvel Clube. Assim o acordo estava feito. Quando o Estrelinha fizesse 1 ou 2 x 0, a equipe adversária simularia o famoso "CAI CAI" e deixaria o gramado. O placar administrativo seria 1x0, bastaria então o Comercial fazer 2 gols para ser o Campeão do Primeiro Turno e garantir a vaga para a grande final.
Diante dos fatos o Presidente do Estrelinha, Lindomar Lunardi, convocou reunião urgente na quarta feira à noite no Bar do Ênio Baialuna, principal reduto da equipe e onde tudo acontecia. A fanática torcida do Estrelinha também participaria. E na quarta à noite não deu outra. Quase 100 pessoas no Bar. O mestre Birlo da Bateria do inesquecível "Bloco Estamos na Nossa", se entusiasmou e apareceu com os ritmistas, instrumentos, etc e tal. Depois de muita cerveja, caçhaca e samba ficou definido. Presença geral da torcida para domingo no Pedro Raimundo. O Fusca com o auto-falante rodaria na Quinta, Sexta e Sábado pelas ruas do Bairro convocando a torcida. Os torcedores símbolo Brazão, Pato, Zé Pretinho e Jeová não tinham dúvidas... "Esse Título nóis num perde nunca".
Chegou a tão esperada manhã de Domingo e não deu outra. Mais de 1000 torcedores no Campo do Pedro Raimundo, tomado de azul e branco, fogos, bandeiras e otimismo. Nós jogadores estávamos preocupados que o adversário nem aparecesse para jogar, pois o time estava em último na tabela e era muito fraco. Mas apareceram. Exatamente 11 jogadores, o técnico e o massagista. O árbitro, os bandeiras e o representante oficial da Liga completavam o espetáculo.
O Pedro Raimundo era exatamente como é hoje. Os jogadores para chegarem ao gramado passam no meio da torcida. O representante fechou o portão, único que existe, e guardou o cadeado com ele. Aí veio da torcida, acho que do velho Birlo: -" Agora ninguém sai daí. Só quando o jogo acabar." E o refrão do "Estamos na Nossa" e da torcida: -" Pode esperar, se cair vai apanhar" Os jogadores do Automóvel Clube, dava para perceber, estavam assustados.
Começa o jogo. Nossa equipe era muito boa. De veteranos havia somente o Adil e Eu. O restante do time era jovem e bom de bola. O destaque era o Carlinhos, artilheiro mesmo. E logo aos 5 minutos Carlinhos fazia o primeiro gol e, aos 8' o segundo. Maior festa na torcida. Mas o Automóvel Clube tinha vindo já preparado e aos 10' o lateral esquerdo simula contusão e cai no gramado, o goleiro também. Entra em campo o massagista e sinaliza para o árbitro que o lateral não tinha condições. Nesse exato momento, lembro muito bem, o único portão parecia um formigueiro. A torcida e os mais fanáticos estavam a postos. E talvez na voz de Jeová o grito: -" Nem pense em sair daí. Volta para o campo pelo amor de Deus. Nem tente sair do jogo". E o goleiro que também estava caído se levantou rapidamente, depois de um rojão que explodiu na sua grande área e assustado mandou. - "Viemos aqui prá jogar então vamos jogar". O árbitro também aliviado deu continuidade ao jogo. Eu diria que em situação normal poderíamos ganhar aquele jogo de 8 ou 9 a zero. Mas diante do susto e da surpresa que os jogadores tiveram, os gols foram saindo 3, 4, 5, 11 x a zero foi o placar do primeiro tempo.
No intervalo, uma certeza, eles estariam em campo para a segunda etapa. Prova disso foi que nem saíram do círculo central. Os Diretores do Comercial que assistiam à partida saíram de “fininho” e foram ao Campo do Primavera dar a notícia e o Placar. No fim o Comercial acabou empatando o jogo com a Duratex 0 x 0.
Começou o segundo tempo e aí foi 12, 13, 14....31 X 1.
E os principais jornais de Jundiaí em 14 de agosto de 1979, estampavam as matérias em destaque....

Jornal de Jundiaí 14, agosto de 1979

Jornal da Cidade de Jundiaí 14, agosto de 1979
Para mim fica uma saudade imensa dos que em 1979 estavam e hoje não estão mais entre nós. Saudade do nosso presidente Lindomar, do Pato, Zé Pretinho, Brazão, Cajú parceiro querido, do mestre Ênio Baialuna, Litão, Jeová, Gamelinha, Roberto Carlos, Ademir, Pedro e Clóvis de Barros, do Badólio, Doro Barbeiro, dos Mestres do Bloco Estamos na Nossa - Birlo e Marinho, do Adolpho Massotti (com PH mesmo), Jura, Walter, Chapéu, Bira Pinto, do inesquecível Osvaldo Barbaro que nas Festas Juninas era o Padre, no Natal o Papai Noel, no Carnaval a mais pura e inocente alegria. Do nosso massagista Zico Censi, do Wilson Soldan, dos meus primos Claú, o Pastéis e do Ademir Fernandes, brilhante jornalista do Jornal da Tarde de São Paulo, apaixonado por futebol e pelo Estrelinha, do Carlinhos Spina, rei das rifas e dos fogos, do folclórico Zé Bananeiro e de tantos outros torcedores e amigos verdadeiros. Saudade maior ainda, da velha e querida Ponte São João.
SOCIEDADE ESPORTIVA ESTRELA DA PONTE - 1979
